domingo, 23 de fevereiro de 2014

Coisas boas do campo....

Uma deslocada de um grande cidade, com muitos hábitos urbanos - carinhosamente (ou não) apelidada de "urbanóide", tem alguma dificuldade em adaptar-se ao mundo rural. Desenvolve alergias, sente falta de alguns pequenos luxos culturais, ou menos culturais, não consegue adormecer ao som dos cães constantemente a ladrar ou ao som do silêncio profundo, entre outros assuntos mais ou menos importantes. 


Mas o campo tem destas maravilhas, como e recolecção de alimentos silvestres. Com o fim destas épocas de chuvas e o reaparecimento (embora tímido) do sol, iniciou a época da caça....aos espargos! 

Foi a minha primeira vez e embora ao inicio me parece-se tudo verde lá comecei, com a ajuda de um expert claro, a treinar o olho para os apanhar, e no final da hora e meia já os detectava ao longe (gosto de pensar que sim). 

Ainda não existem muitos, é preciso sol com mais força, mas no final a colheita não correu nada mal, o suficiente para preparar um belo almoço de Domingo. 

E levantando a cabeça das esparregueiras ainda dá para apreciar o belo espectáculo que são as amendoeiras em flor.

Um cenário de cortar a respiração, onde o verde é colorido com flores brancas e rosas e que faz anunciar o que mais se deseja em trás-os-montes: a Primavera!!

Aguardamos ansiosamente as andorinhas

sábado, 15 de fevereiro de 2014

Ruínas

 
Entrada da Casa do João Ratão, freguesia de Provesende, concelho de Sabrosa.
As vidas dos outros sempre exerceram fascínio sobre cada um de nós. Um fascínio que é menos vergonhoso à medida que a distância entre a nossa própria vida e a dos outros for maior, deixa de ser cusquice para passar a ser cultura.
As ruínas funcionam como um portal de acesso a essas vidas (passadas) que tanto nos interessam. O nosso imaginário, povoado de histórias arremessadas pelos livros, pela escola, pelos filmes, enleia-se com a nossa essência e neste cenário podemos recriar as vidas à nossa imagem e semelhança.

Jardim na parte anterior da Sé Catedral de Miranda do Douro.


Castelo de Trancoso
As relações humanas funcionam da mesma maneira, apenas recebemos vestígios do que os outros são e cabe-nos imaginar o resto. Conseguimos ver o que querem que nós vejamos, brechas de história pessoal que pode sair gradualmente ou em golfadas de verdades.








Tem a vantagem de imaginarmos o que mais se ajusta aos nossos desejos e aflições (ilusão...)tem a desvantagem de quase sempre as projecções serem falsas. De igual forma, por muito que tentemos recriar a história, dificilmente nos aproximamos da realidade, ou mesmo que consigamos esse feito, nunca o saberemos.


Cemitério no interior das muralhas de Marialva, Mêda



E ao contrário do que acontece com as ruínas de calhaus, em que mesmo sendo falso conseguimos acreditar que é verdadeiro, porque ninguém nos poderá dizer o contrário, as “vidas vivas” revelam-nos as falácias da nossa imaginação em vagalhões sob os quais perecemos (desilusão)....


















Neste cenário mágico de ruínas físicas não há vagalhões, podemo-nos sentar no topo da muralha e acreditar na nossa imaginação, ninguém nos dirá o contrário.

Castelo de Marialva, Mêda







sábado, 1 de fevereiro de 2014

Cansaço



CansaçoO que há em mim é sobretudo cansaço — 
Não disto nem daquilo, 
Nem sequer de tudo ou de nada: 
Cansaço assim mesmo, ele mesmo, 
Cansaço. 

A subtileza das sensações inúteis, 
As paixões violentas por coisa nenhuma, 
Os amores intensos por o suposto em alguém, 
Essas coisas todas — 
Essas e o que falta nelas eternamente —; 
Tudo isso faz um cansaço, 
Este cansaço, 
Cansaço. 

Há sem dúvida quem ame o infinito, 
Há sem dúvida quem deseje o impossível, 
Há sem dúvida quem não queira nada — 
Três tipos de idealistas, e eu nenhum deles: 
Porque eu amo infinitamente o finito, 
Porque eu desejo impossivelmente o possível, 
Porque quero tudo, ou um pouco mais, se puder ser, 
Ou até se não puder ser... 

E o resultado? 
Para eles a vida vivida ou sonhada, 
Para eles o sonho sonhado ou vivido, 
Para eles a média entre tudo e nada, isto é, isto... 
Para mim só um grande, um profundo, 
E, ah com que felicidade infecundo, cansaço, 
Um supremíssimo cansaço, 
Íssimno, íssimo, íssimo, 
Cansaço... 
Álvaro de Campos